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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Refugiados da Shoah em terras de Sefarad* - Rachel Mizrahi**

Aristides de Souza Mendes consul de Poerugal em Bordéus,França. Concedeu cerca de 10.000 "vistos
de transito" a refugiados judeus.






A tomada do poder pelo partido nazista na Alemanha, permitindo a partir de
1935 a institucionalização do racismo, levou a que os 500.000 judeus
germânicos se mobilizassem. Embora grande número tenha buscado terras
do Oriente Médio, inclusive a ancestral Eretz Israel, parte, na crença de que
a política discriminatória não fosse duradoura, retardou sair da terra que
durante séculos foi local de abrigo e moradia.
Iniciado o aniquilamento em massa, restava aos judeus que ainda se
mantinham na Alemanha e nos países conquistados, escapar. Multiplicaramse
as rotas de fuga e as bases de apoio que garantiam o trânsito seguro aos
que pretendiam encontrar refúgio além Atlântico. Na Europa, foram raros os
países que concordaram em servir de trampolim para a salvação de
refugiados que não dispunham de garantias econômicas para arcar com os
gastos de sobrevivência em continente tumultuado pela guerra. Diante das
dificuldades impostas por vários países da América à emissão de vistos de
entrada aos refugiados judeus, a falsificação de documentos, de passaportes,
das “cartas de chamada”, de atestados de batismo cristão e a compra de
vistos, tornaram-se comuns.
Declarando-se neutros, Portugal e Espanha foram países procurados por
grande número de refugiados judeus, especialmente os que comprovassem
origem ibérica. A antiga Sefarad transformara-se na guerra, em terra dos
refugiados da Shoah. Diplomatas espanhóis da Turquia, Grécia, Iugoslávia e
Bulgária foram procurados por sefaraditas, em busca da salvação. Pudemos



*Trabalho apresentado no VII CONFARAD – Congresso Sefaradi -Rio de Janeiro - 2010
**Pesquisadora dra. do Arquivo Virtual sobre o Holocausto do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância e Racismo da Universidade de Paulo



verificar este interesse pelos depoimentos, registrados pelo Arquivo
Histórico Judaico Brasileiro/São Paulo. Moisés de Castro Nahum, por
exemplo, natural de Scopie atual, República da Macedônia que, em 1947,
refugiou-se no Brasil. Quando os nazistas instalaram-se na Grécia a família
que aguardava a deportação, foi libertada. David Navarro, também preso,
conseguiu que o embaixador espanhol solicitasse às autoridades alemãs a
saída dos detidos sefaraditas. Assim libertos, os irmãos Navarro, em
Marselha, ajudavam no encaminhamento de refugiados judeus ao atual
Estado de Israel.
Em 1940, conquistada Paris por tropas alemãs, milhares de refugiados
buscaram ao sul, a cidade de Bordéus, ainda não alcançada pelas tropas
nazistas. Entre os refugiados encontravam-se políticos, aristocratas,
diplomatas e intelectuais judeus, em busca dos “vistos de trânsito”,
conseguidos pelo humanista português, cônsul Aristides de Sousa Mendes
que conseguiu que quase 10.000 refugiados chegassem a Portugal, via
terrestre. Hoje, o Instituto israelense Yad Vashen considera Souza Mendes
um dos “Justos entre as Nações”.
Em Portugal, Oliveira Salazar, ainda que fascista, não adotara o
antissemitismo como bandeira, permitindo que famílias judias se
instalassem em Portugal. Em conveniente “política de fronteiras”, Portugal
transformara-se em “país de trânsito”, permitindo a entrada temporária de
refugiados, mas impedindo aos que não pudessem retornar ao país de
origem, como era o caso dos judeus alemães.
A presença de refugiados levou a que entidades filantrópicas e de lideres
comunitários se preocupassem em apressar a emissão de vistos de entrada a
países da América ou mesmo às terras do Oriente Médio. Além da ajuda da
JOINT (American Jewish Commitee) e da Cruz Vermelha Portuguesa, não

podemos deixar de mencionar a benemerência do rabino Mendel Wolf
Diesendruck que, anos depois se instalou no Brasil2. Diplomado em
Filosofia pela Academia Rabínica Austríaca, estabelecido em Portugal desde
1940, Diesendruck, voluntário da Jewish Agency for Palestine, auxiliava
sobreviventes e refugiados judeus à espera do visto de entrada em países da
América.





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2 Diesendruck foi por muitos anos rabino aos sefaraditas da sinagoga da rua da
Abolição, hoje Ohel Yaacov.

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