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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Abné Zikaron - Pedras da Recordação

Abné Zikaron - Pedras da Recordação
Fonte: Jornal haLapid - Edição 117 de maio de 1943
Por: Isaac Jacob Lopes Martins
Vista panorâmica da cidade medieval de Toledo, a "Jerusalém de Sefarad"


Quando os Reis Católicos Fernando e Isabel decretaram a expulsão dos hebreus espanhóis, um judeu Toledano, antes de abandonar esta cidade onde os hebreus deixavam tantas recordações, quis despedir-se da necrópole judia que estava situada no “Cerro de la Horca”.
Ali debaixo daquelas pedras tumulares ficavam as cinzas das Glórias da Raça. Famílias e amigos daqueles judeus Toledanos que a cristianíssima bondade de Fernando e Isabel forçava a emigrar. Se bem que a maioria dos hebreus não procurasse senão salvar aquilo que podiam dos seus bens, este, a que me refiro acima, teve um gesto sentimental ao dar o último adeus aos restos dos seus irmãos de raça.
Mas fez mais. Desejando levar uma recordação sensível daquele cemitério que não tardaria a desaparecer, e do qual desapareceu efetivamente até o lúgubre nome do monte em que estava situado, lembrou-se de anotar as inscrições gravadas nos sepulcros dos semitas de maior importância.
Num caderno transcreveu literalmente setenta e seis epitáfios, quase todos referentes a pessoas e famílias do século XIV, época mais florescente da Comunidade Israelita Toledana.
Denominou-se este seu sentimental trabalho “Abné Zikarón” isto é: “Pedras Memoriais”.
O manuscrito em questão começou a suscitar o interesse dos hebraístas do século XIX.
Encontra-se então na Real Biblioteca de Turim, na Itália. Aí foi lido e estudado por Luzzato que o mandou imprimir em Praga no ano de 1841. A edição, depois de circular muitos anos no estrangeiro, chegou por fim a Espanha, mas o precioso original ficou reduzido a cinzas quando do incêndio que destruiu a Biblioteca.
Havia dúvidas sobre a veracidade do manuscrito, pois bastantes imitações mais ou menos perfeitas, apareceram, contudo os últimos achados arqueológicos de Toledo comprovaram plenamente não só a exatidão como a autenticidade do seu testemunho.
...Um dia por ocasião dumas obras, foi descoberta na rua “de la Roperia” uma pedra granítica quadrangular, que era o topo duma antiga porta..
Esta pedra tinha gravadas umas inscrições hebraicas, e tinha sido a lápide sepulcral da judia Donna, que segundo o epitáfio “sobre a terra teve as mãos brancas” pelo que “o céu foi piedoso para com ela”..


Achados arqueológicos comprovam a existências das tumbas de judeus na necrópole medieval de Cerro de La Horca, em Toledo
Consultando o caderno do judeu Toledano que recolheu as inscrições do cemitério da Horca, lá estava exatamente reproduzido o texto desta legenda sepulcral (bem rimada, como todas elas) da bondosa Donna...
... Outro dia (1936), na casa do Dr. Lopez Fando descobriu-se que a pia do lavadouro era a lousa funerária de Jacob Aben El Sarcasán, médico célebre que “se empenhou toda a vida a amar a Deus e a aproximar-se d’Ele”. Também esta inscrição foi identificada no interessantíssimo documento do nosso correligionário Toledano.
Em 1932-35, o diretor do Museu Arqueológico Provincial, Senhor D. Francisco de San Roman, reconheceu outra pia do lavadouro do Convento de freiras de S. Domingos de Real, como sendo a lousa sepulcral da hebréia Sadbona, esposa do Rabi Meir Halevy, parente próximo do almoxarife Samuel Halevy, falecido em 1349, no reinado de Pedro, o Cru, em conseqüência da peste que assolou a Europa no século XIV e que causou inúmeras vítimas em Toledo, entre as quais Donna (das mãos brancas) e o médico El Sarcasán. Ao consultar o caderno judaico, o Sr. San Roman comprovou que a isncrição de Sadbona “a respeitável, e eminente mulher superior” era justamente a primeira que transcreveu na Necrópole da Horca, o inteligente judeu anônimo a quem se deve um documento de valor histórico e filosófico tão excepcional dentro da bibliografia hebraica espanhola.
Já em princípios do século atual, na quinta “Venta de Hoyo” primitiva colônia judia, uns camponeses descobriram quando trabalhavam a terra, o sepulcro do Rabi Moisés Ibn Abi Zardil, que apareceu intacto, com a cova revestida de tijolos e coberta com uma tampa granítica.
Destruíram a sepultura e espalharam os restos humanos que continha, mas guardaram a lápide para bebedouro, mister a que esteve aplicada durante um decênio. A forma de pirâmide truncada que tinham estas lápides incitava a aplicá-las invertidas, para tais usos, e todas elas mostravam num dos seus ângulos, o orifício feito para o seu esvaziamento.
A do Rabi Moisés tem gravado, como as outras, um longo epitáfio que ocupa todas as faces e nas quais se diz: “Que o Senhor lhe dê de beber no rio dos seus prazeres...”.
As lápides mencionadas, como a do judeu convertido Havaab, do século XII, procedente da igreja de S. Miguel, são a base da coleção epigrafa judia do Museu Arqueológico Provincial. (Toledo).
Outros exemplares interessantes da mesma seção são uma viga em talha, suposta coluna da primitiva porta de Santa Maria a Branca, embora também seja provável que provenha de outra sinagoga toledana desaparecida.
O Museu Arqueológico Provincial de Toledo possui ainda outros achados de valor, recolhidos por toda a parte, todo aproveitado como materiais de construção para os mais diversos fins...

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