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terça-feira, 7 de junho de 2011

SHAVUOT

Shavuot, chamada de Pentecostes, é a festa do tempo, literalmente quer dizer semanas. Refere-se ao espaço de tempo das 7 semanas, contados a partir da páscoa judaica, o Pessach. Estas duas junto com Sucot, Cabanas, são festivais chamados de "regalim"= caminhadas1 , nas quais se peregrinava até o Beit Hamidash = Casa Sagrada em Jerusalém. É tempo de ir ao Templo, destacar2 o sagrado do cotidiano. Esta unidade espaço temporal é análoga ao ensinamento da física moderna que demonstra a intrínseca unidade espaço-tempo. Assim, embora siga linearmente o calendário da contagem semanal, é preciso lembrar que os Tempos e os Espaços místicos são Outros, unos entre si e distintos da racionalidade habitual que os dissocia. Desse modo, por exemplo, a tradição mística judaica conta que a Torá já estava escrita antes da própria criação, sendo só posteriormente outorgada ao povo judeu por ocasião de Shavuot.
Shavuot sintetiza dois tempos, enquanto tempo terreno agrícola como Yom Habicurim, Dia da Colheita, co-incide com as primícias da colheita, espiritualmente levadas ao Templo Sagrado. Lembremos que a Torá , como canta a liturgia, é chamada de Árvore da Vida. Shavuot enquanto tempo espiritual se materializa na entrega da Torá , literalmente "Matan Torá". A eternidade da Torá, partícipe da própria criação do universo, se pontualiza neste dia, tal como a grande restrição Divina do Tzim-Tzum para criação do mundo.
Após a libertação da escravidão contam3 7 semanas, 7 x 7 = 49 dias, que se chama Sefirat HáOmer, até o recebimento, ou seja a Cabalá da Torá, que será o Guia da travessia do deserto rumo a Terra Prometida. Este tempo-espaço entre a libertação da escravidão e o recebimento da Torá , representa uma preparação, um processo de amadurecimento. É a diferença entre se liberar e ser livre, a primeira tem a importância de se referir a se libertar de algo ou alguém, corresponde a uma atitude reativa, da negação da negação, do direito a dizer não, excluir, já ser livre implica em escolher numa atitude proativa que implica no direito de dizer sim, de acatar. Só livre pode o povo eleger a Torá, tal como conta tradição que a Torá foi oferecida a outros povos mas foi o povo judeu que a aceitou para cumprir-lhe os mandamentos, daí melhor compreendermos a significacão do povo eleito4 como povo eleitor, o que elegeu seguir os preceitos da Torá .
O caminho da transcendência corresponde a um processo maturacional5 e é uma das principais temáticas judaicas, aparecendo de várias maneiras, tais como na criação do mundo em 7 dias, no episódio da Árvore do Conhecimento comida antes do tempo6, no casamento prematurado de David com Betsabá, nas orações7 de espera e purificação, como o Mikvê, as ritualizações do Kasher e nas prescrições sobre as primícias do campo.
Também pode ser verificado no recebimento da Torá , pois este se dá em 4 tempos, como se fossem quatro sendo ao mesmo tempo uma única: a primeira Torá é dada na Explosão Oral Divina, insuportável aos ouvidos8 dos israelitas, a segunda que foi quebrada por Moisés no episódio do bezerro de ouro9 , a terceira recebida por Moisés e guardada na arca da Aliança e a quarta escrita-oral, espaço-tempo, transmitida de geração em geração, que é a que conhecemos. Estes 4 tempos correspondem ao ensinamento cabalístico sobre a existência dos 4 mundos: o Mundo da Emanação ( Atzilut), da Criação ( Briá ), da Formação (Yetzirá) e Realização (Assiá) e os 4 elementos Fogo, Água, Ar e Terra.
O poema sapiencial Qohélet, Eclesiastes, literalmente quer dizer " O que sabe " diz que para tudo, seu momento, e tempo para todo o evento, sob o céu. Tempo de plantar e tempo de colher. Shavuot é festa da contagem paradoxal do tempo, na junção da eternidade onde reina a unidade do tempo de plantar e de colher. É tempo de caminhada e de chegada, de ascenção, da junção do espiritual com o material, de saborear as primícias dos frutos da Árvore da Vida renovadores e sonhar com a terra prometida, a Jerusalém Celestial e a salvação Messiânica, quando cohabitará a paz entre os seres vivos, ressuscitados em santidade. Colhemos aquilo que plantamos. Primeiramente limpamos e aramos a santa terra, como nosso corpo, para então colocarmos a semente, como na estória do pé de feijão mágico. Há de se haver descido para poder se ascender.
Mesmo que tudo isto seja um sonho, quando não é solitário passa a ser chamado de realidade. Por isso fazemos as assembléias dos Sonhos em Shavuot. Sonhar e contar com línguas de fogo. Além de sonhar e contar vamos interpretar, pois um sonho não interpretado como diz a tradição é uma carta que não foi aberta. Vamos começar nos apropriando agora do primeiro sonho bíblico que é o de Jacó10 e interpretarmos juntos o seu sentido e utilizarmos do instrumento místico que nos ensina que é a Escada de Jacob, na escalada concreta do caminho espiritual.

1. As peregrinações, colocar o pé malkutiano na estrada, fazem parte de outras culturas que cultuam o crescimento espiritual como processo maturacional no caminho da transcedência. Assim, por exemplo, os sufis e o próprio Islam tem na ida a Meca, uma de suas 5 regras básicas, o Caminho de Santiago de Compostela para os cristão, da mesma forma que nós aqui no nosso Shavuoton, peregrinamos para um retiro, sacralizando este lugar e este momento.
2. Que é o sentido da palavra Kadosh= sagrado como distinguir, destacar do comum .
3. O Sefer Yetzirá ensina sobre as contas, os contos e a contação.
4. Assim como o povo israelita foi eleito para guardar e seguir a Torá , o muçulmano o foi para o Al-Corão, o cristão para os Evangelhos, o Hindu para o Bagawaghita, etc.
5. O processo maturacional é constitutivo do ser humano em sua imaturidade essencial e natureza prematura.
6. Kafka disse que o homem perdeu o paraíso por causa de sua pressa e para êle não retorna em função da sua preguiça.
7. Canta o salmista "Espera pelo Senhor e tem bom ânimo" Sl 27:14
8. Analogamente a narrativa cabalista sobre a criação do mundo através das sefirot , os vasos da Árvore da Vida, que teriam se partido, a Schevirá, não suportando a primeira emanação da Divina Luz Infinita, o Ayn Sof Aor.
9. O dia 17 de Tamuz jejua-se diurnamente para relembrar a quebra das Tábuas.
10. Jacó soube interpretar corretamente transmitindo este dom a seu filho José, que bem antes de Freud, já interpretava os sonhos.



Fonte: CJB

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