Ontem, reencontrei um antigo companheiro de luta pela causa da cultura sefaradí, o doce amigo, Dr. Luiz Benyosef.
Nos conhecemos no final dos anos 90, no escritório de Alberto Nasser, levados nós e outros "sfatas" ( palavra formada pelas iniciais de sefaradís autênticos, em língua hebraica), pelo entusiasmo de Nelson Menda, para juntos fundarmos o CONFARAD e realizar, no Rio, o seu primeiro congresso.
Vem de lá minha admiração por este geofísico, pesquisador titular do Observatório Nacional, um antenado com o universo e amante incondicional das coisas e das causas humanas, em particular as judaico-sefaraditas.
Sempre apreciei em Benyosef, a simplicidade aristocrática de sua sapiência - um jeito "cool", poderia dizer "kal", do hebraico - leve. Acho que é isso - uma sábia leveza de ser...
Posso dizer todas estas coisas sobre ele, para só depois lembrar, que como eu, é neto de tangerinos e também ama nossa ancestralidade e toda a sua tradição, mas se o fizesse primeiro, me julgariam suspeito, parcial, tendencioso...
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Luiz Benyosef, no Encontro das Águas, em Manaus, em sua visita as comunidades da Amazônia |
Por contingências diversas nos afastamos um pouco, mas jamais deixei de seguir suas pegadas...
Eu fui tratar da minha paixão deslavada pelo judaísmo amazônico e ele seguiu ativo no CONFARAD, além de fazer um trabalho brilhante como diretor de pequenas comunidades da FIERJ – e foi nesta nova missão, que Benyosef, em parceria com o saudoso casal Egon e Frieda Wolff de abençoada memória, “cometeu” sua, até aqui, na minha humilde opinião, maior contribuição à memória da presença judaica em terras fluminenses, a criação do Memorial Judaico de Vassouras, o qual preside.
Para conhecer a dimensão e importância de tão magnífica obra, acesse www.memorialjudaico.org.br/. E antecipamos que o UNIVERSO SEFARADÍ e a revista AMAZÔNIA JUDAICA, estão preparando uma matéria especial sobre o tema.
Mas voltemos ao nosso (re)encontro. Ele se deu na Adega Portugália, bem ali no tradicional Largo do Machado, outro lugar especial da memória do Rio e da minha pessoal.
Falamos sobre isso e também, é claro, da nossa paixão comum: a memória e sua preservação, rememorando nossas origens pessoais comuns de netos de judeus marroquinos oriundos de Sefarad (Espanha), com suas particularidades – ele mineiro, cujos avós marroquinos se estabeleceram na Bahia e eu amazonense, cujos avós de mesma origem, se estabeleceram no Amazonas. Quase nada em comum...E para agravar ainda mais, dois grandes contadores de “causos”. E eu, como sempre, não perco o hábito de roubar os causos narrados por outros e registrá-los como um fiel escriba.
Pois vamos à história em questão:
me contou Luiz, que em 1998, teve a felicidade de realizar seu sonho de voltar ao local de origem de seus antepassados, o Marrocos. Narrou com o entusiasmo e a graça de contador que lhe é peculiar, a maravilhosa e emocionante experiência ali vivida, e selecionou, como um exímio pescador de ostras seleciona a melhor de suas pérolas, a seguinte passagem da viagem, como destaque.
Aconteceu, me contou, que estando em Tanger de nossos avós, resolveu, entre várias visitas, conhecer a sinagoga da família Benatar, escolhendo como momento oportuno de ali chegar, a hora da tefilá (oração).
Eu não sei vocês, caros leitores, mas eu, muitas vezes não sei o que pensar de certos acontecimentos , tipo aqueles que se assemelham a coisas quase inexplicáveis. Não que eu seja totalmente cético – não se esqueçam da minha ancestralidade espanhola, em cujo idioma há um dito bastante conhecido: “no creo en brujas, pero que las hay, las hay”... e mais ainda, da minha vertente marroquina, cuja tradição, entre outros elementos centrais, possui uma forte crença no poder e nas façanhas de seus tzadikim(justos). E para agregar mais “pimenta” lembro da nossa literatura rabínica, o Talmud, que entre várias coisas afirma o seguinte: o mundo, a cada geração, se mantém de pé, graças à existência de 36 justos ocultos que justificam sua preservação.
Mas voltemos ao meu amigo Luiz e sua visita à sinagoga. Me contou que ao chegar naquele recinto sagrado, se deparou com nove homens que o receberam com um misto de euforia e surpresa de quem vê chegar, finalmente, alguém por quem ansiosamente esperavam: “ Oh. finalmente você chegou, já podemos começar, então”
Foi quando ele percebeu que era o décimo homem no lugar e que com ele podiam formar o minian (quorum mínimo para se rezar coletivamente).
Até aí nada demais, certo? Mas acontece que não chegou mais ninguém depois dele...
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Luiz Benyosef, na Sinagoga da família Benatar em Tanger, durante sua viagem ao Marrocos em 1998 |
hahahaha!
ResponderExcluirótima história, Elias!
“no creo en brujas, pero que las hay,las hay”...
:)
bjos,
Flavinha