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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Refugiados da Shoah em terras de Sefarad* - Rachel Mizrahi**

Aristides de Souza Mendes consul de Poerugal em Bordéus,França. Concedeu cerca de 10.000 "vistos
de transito" a refugiados judeus.






A tomada do poder pelo partido nazista na Alemanha, permitindo a partir de
1935 a institucionalização do racismo, levou a que os 500.000 judeus
germânicos se mobilizassem. Embora grande número tenha buscado terras
do Oriente Médio, inclusive a ancestral Eretz Israel, parte, na crença de que
a política discriminatória não fosse duradoura, retardou sair da terra que
durante séculos foi local de abrigo e moradia.
Iniciado o aniquilamento em massa, restava aos judeus que ainda se
mantinham na Alemanha e nos países conquistados, escapar. Multiplicaramse
as rotas de fuga e as bases de apoio que garantiam o trânsito seguro aos
que pretendiam encontrar refúgio além Atlântico. Na Europa, foram raros os
países que concordaram em servir de trampolim para a salvação de
refugiados que não dispunham de garantias econômicas para arcar com os
gastos de sobrevivência em continente tumultuado pela guerra. Diante das
dificuldades impostas por vários países da América à emissão de vistos de
entrada aos refugiados judeus, a falsificação de documentos, de passaportes,
das “cartas de chamada”, de atestados de batismo cristão e a compra de
vistos, tornaram-se comuns.
Declarando-se neutros, Portugal e Espanha foram países procurados por
grande número de refugiados judeus, especialmente os que comprovassem
origem ibérica. A antiga Sefarad transformara-se na guerra, em terra dos
refugiados da Shoah. Diplomatas espanhóis da Turquia, Grécia, Iugoslávia e
Bulgária foram procurados por sefaraditas, em busca da salvação. Pudemos



*Trabalho apresentado no VII CONFARAD – Congresso Sefaradi -Rio de Janeiro - 2010
**Pesquisadora dra. do Arquivo Virtual sobre o Holocausto do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância e Racismo da Universidade de Paulo



verificar este interesse pelos depoimentos, registrados pelo Arquivo
Histórico Judaico Brasileiro/São Paulo. Moisés de Castro Nahum, por
exemplo, natural de Scopie atual, República da Macedônia que, em 1947,
refugiou-se no Brasil. Quando os nazistas instalaram-se na Grécia a família
que aguardava a deportação, foi libertada. David Navarro, também preso,
conseguiu que o embaixador espanhol solicitasse às autoridades alemãs a
saída dos detidos sefaraditas. Assim libertos, os irmãos Navarro, em
Marselha, ajudavam no encaminhamento de refugiados judeus ao atual
Estado de Israel.
Em 1940, conquistada Paris por tropas alemãs, milhares de refugiados
buscaram ao sul, a cidade de Bordéus, ainda não alcançada pelas tropas
nazistas. Entre os refugiados encontravam-se políticos, aristocratas,
diplomatas e intelectuais judeus, em busca dos “vistos de trânsito”,
conseguidos pelo humanista português, cônsul Aristides de Sousa Mendes
que conseguiu que quase 10.000 refugiados chegassem a Portugal, via
terrestre. Hoje, o Instituto israelense Yad Vashen considera Souza Mendes
um dos “Justos entre as Nações”.
Em Portugal, Oliveira Salazar, ainda que fascista, não adotara o
antissemitismo como bandeira, permitindo que famílias judias se
instalassem em Portugal. Em conveniente “política de fronteiras”, Portugal
transformara-se em “país de trânsito”, permitindo a entrada temporária de
refugiados, mas impedindo aos que não pudessem retornar ao país de
origem, como era o caso dos judeus alemães.
A presença de refugiados levou a que entidades filantrópicas e de lideres
comunitários se preocupassem em apressar a emissão de vistos de entrada a
países da América ou mesmo às terras do Oriente Médio. Além da ajuda da
JOINT (American Jewish Commitee) e da Cruz Vermelha Portuguesa, não

podemos deixar de mencionar a benemerência do rabino Mendel Wolf
Diesendruck que, anos depois se instalou no Brasil2. Diplomado em
Filosofia pela Academia Rabínica Austríaca, estabelecido em Portugal desde
1940, Diesendruck, voluntário da Jewish Agency for Palestine, auxiliava
sobreviventes e refugiados judeus à espera do visto de entrada em países da
América.





____________________
2 Diesendruck foi por muitos anos rabino aos sefaraditas da sinagoga da rua da
Abolição, hoje Ohel Yaacov.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Rede das Judiarias de Portugal vai ser constituída em Fevereiro





A Rede das Judiarias de Portugal vai ser constituída em fevereiro, ficando sediada em Belmonte, disse à agência Lusa, Jorge Patrão, presidente da Entidade Regional de Turismo da Serra da Estrela.

A rede vai juntar os centros históricos de vários municípios numa associação sem fins lucrativos para defender o patrimônio judaico urbanístico e arquitetônico, disse aquele responsável, um dos dinamizadores da iniciativa. Pretende-se ainda definir programas culturais e turísticos com base na herança judaica.
Os membros fundadores, já confirmados, serão as entidades regionais de Turismo da Serra da Estrela, Douro, Oeste, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, os municípios de Belmonte, Guarda, Trancoso, Lamego, Penamacor, Freixo de Espada-à-Cinta e Castelo de Vide e a comunidade judaica de Belmonte. Outras entidades estão ultimando os respectivos processos” para aderirem à nova estrutura, adiantou Jorge Patrão. A rede terá sede em Belmonte, onde reside uma das mais antigas comunidades judaicas do mundo, que sobreviveu à inquisição.

O presidente da Entidade Regional de Turismo da Serra da Estrela considerou que a rede será uma ferramenta útil para “muitos centros históricos que estão desmantelados e precisam de recuperação".
A requalificação será conseguida “através de programas específicos da União Europeia: uma candidatura com uma temática, como o judaísmo, tem mais força do que recuperar só por recuperar”, destacou.
Por outro lado, “a rede permitirá ter uma nova aposta no setor turístico, tal como na Serra da Estrela, o judaísmo tem representado um crescimento do número de turistas complementar ao mercado da neve”, assinalou Jorge Patrão.
No entanto, o envolvimento de operadores turísticos será remetido para mais tarde.
Para já, os membros fundadores da rede ultimam os estatutos e preparam-se para a escritura pública a ter lugar em data a definir no mês de fevereiro.
“Penso que vamos conseguir ter uma associação sólida, à semelhança da que já existe em Espanha”, disse Jorge Patrão.
Amândio Melo, presidente da Câmara de Belmonte, manifestou-se satisfeito com a idéia, alertando, no entanto, que “não pode ser um simples movimento associativo. É necessário que os associados tenham uma tradição judaica para que a rede seja genuína”.

Belmonte espera que 2011 seja o ano da construção de um hotel kosher, de tradição judaica, um projeto privado que está sendo apreciado pelo município, disse à agência Lusa o presidente da autarquia, Amândio Melo.
Em Belmonde reside uma das comunidades judaicas mais antigas do mundo, hoje com 140 pessoas. Os antepassados sobreviveram à Inquisição, celebrando o cristianismo em público e preservando o culto judaico em casa, escondido e ensinado pelas mães de geração em geração. Foi assim até a década de 1970. Hoje existe em Belmonte uma sinagoga que chega a juntar 50 judeus nas tradicionais rezas de cada sábado, e tem ainda, de portas abertas, um museu judaico. Os dois espaços são visitados por cerca de 15 mil pessoas todos os anos, desde turistas estrangeiros a alunos de escolas de norte a sul do Portugal.
"Cerca de 40% dos visitantes estão de alguma forma ligados à tradição judaica", sublinha Amândio Melo, presidente da Câmara de Belmonte, vila que vai ser sede da Rede de Judiarias de Portugal, a constituir-se em fevereiro Não espanta por isso que se anseie por ver no terreno pelo menos o projeco (já revelado por empresários ao município) de construção de um hotel kosher. "Cada vez mais somos visitados por pessoas que acham que isto lhes diz respeito e, por isso, precisamos de alojamento e oferta de alimentação adequada", destaca Amândio Melo. A Câmara já recebeu dois Projetos "para recuperação de edifícios para fazer pequenos hotéis, e há pelo menos um em fase avançada", que se debate agora com a captação de capitais.

França retira o antissemita Céline das comemorações nacionais deste ano - artigo de Vargas Llosa discute o tema





''A literatura não é edificante''
O Nobel de 2010 discute a decisão do governo francês de suspender as homenagens oficiais a Louis-Ferdinand Céline, que morreu há 50 anos, por conta de sua militância antissemita
MARIO VARGAS LLOSA - O Estado de S.Paulo
Oministro da Cultura da França, Frédéric Mitterrand, comunicou que o governo francês resolveu tirar da lista das comemorações nacionais deste ano o escritor Louis-Ferdinand Céline, morto há 50 anos. Com isso, ele cede a um pedido da associação de filhos de deportados judeus e de várias organizações humanitárias que protestaram contra o projeto inicial de render homenagem oficial a Céline, tendo em conta seus violentos panfletos antissemitas e sua colaboração com os nazistas durante a ocupação hitleriana da França.
Politicamente falando, Céline foi, de fato, uma escória. Eu li nos anos 60 sua diatribe Bagatelles pour Un Massacre e senti náuseas ante esse vômito enlouquecido de ódio, injúrias e propósitos homicidas contra os judeus, um verdadeiro monumento ao preconceito, ao racismo, à crueldade e à estupidez. O doutor Auguste Destouches - Céline era um pseudônimo - não se contentou em despejar seu antissemitismo em panfletos virulentos. Parece provado que, durante os anos da ocupação alemã, ele denunciou à Gestapo famílias judias que estavam escondidas ou dissimuladas sob nomes falsos para que fossem deportadas. É seguro que se, por ocasião da libertação, ele houvesse sido capturado, teria sido condenado a muitos anos de prisão ou à morte e executado como Robert Brasillach. Salvou-o ter se refugiado na Holanda, onde passou alguns meses na prisão. A Holanda se negou a extraditá-lo alegando que, na França exaltada da liberação, era difícil que Céline recebesse um julgamento imparcial.
Dito isso, é preciso dizer também que Céline foi um extraordinário escritor, seguramente o mais importante romancista francês do século 20 depois de Proust, e que, com a exceção de Em Busca do Tempo Perdido e A Condição Humana de Malraux, não existe na narrativa moderna em língua francesa nada que se assemelhe em originalidade, força expressiva e riqueza criadora às obras-primas de Céline, Viagem ao Fim da Noite (1932) e Morte a Crédito (1936).
Considerando que a genialidade artística não é um atenuante contra o racismo - eu a consideraria antes um agravante -, a meu juízo, a decisão do governo francês envia à opinião pública uma mensagem perigosamente equivocada sobre a literatura e cria um péssimo precedente. Sua decisão parece supor que, para ser reconhecido como um bom escritor, é preciso escrever também obras boas e, em última instância, ser um bom cidadão e uma boa pessoa. A verdade é que se o critério fosse esse, apenas um punhado de polígrafos se qualificaria.
Entre eles há alguns que correspondem a esse padrão benigno, mas a imensa maioria padece das mesmas misérias, taras e barbaridades que o comum dos seres humanos. Somente na rubrica do antissemitismo - o preconceito racial ou religioso contra os judeus - a lista é tão extensa que seria preciso excluir do reconhecimento público uma multidão de grandes poetas, dramaturgos e narradores, entre os quais figuram Shakespeare, Quevedo, Balzac, Pio Baroja, T.S. Eliot, Claudel, Ezra Pound, E.M. Cioran, e muitíssimos mais.
O fato de que essas e outras eminências fossem racistas não legitima o racismo, em primeiro lugar, e é antes uma prova contundente de que o talento literário pode coexistir com a cegueira, a imbecilidade e os extravios políticos, cívicos e morais, como o afirmou, de maneira impecável, Albert Camus. Como se explicaria de outro modo que um dos filósofos mais eminentes da era moderna, Heidegger, fosse nazista e nunca se arrependesse seriamente pois morreu com sua carteirinha de militante nacional-socialista em dia? Embora nem sempre seja fácil, é preciso aceitar que a água e o azeite são coisas distintas e podem conviver numa mesma pessoa. As mesmas paixões sombrias e destrutivas que animaram Céline desde a atroz experiências que foi para ele a 1.ª Guerra Mundial, lhe permitiam representar, em dois romances fora de série, o mundinho feroz da mediocridade, do ressentimento, da inveja, dos complexos, a sordidez de um vasto setor social que abarcava desde o lúmpen até as camadas mais degradadas em seus níveis de vida das classes médias de seu tempo.
Nessas farsas grandiosas, a vulgaridade e os exageros rabelaisianos se alternam com um humor corrosivo, um deslumbrante fogo de artifício linguístico e uma surpreendente tristeza.
O mundo de Céline é feito de pobreza, fracasso, desilusão, mentiras, traições, baixezas, mas também de disparate, extravagância, aventura, rebeldia, insolência e todo ele difunde uma avassaladora humanidade.
Ainda que o leitor esteja absolutamente convencido de que a vida não é só isso - é o meu caso - os romances de Céline são tão prodigiosamente concebidos que é impossível, lendo-os, não admitir que a vida também seja isso. O grande mérito desse escritor maldito foi ter conseguido demonstrar que o mundo em que vivemos também é essa porcaria e que era possível converter o horror sórdido em beleza literária.
A literatura não é edificante, ela não mostra a vida como ela deveria ser. Ela antes, mais amiúde, ilumina em suas expressões mais audaciosas, com suas imagens, fantasias e símbolos, aspectos que, por uma questão de tato, bom, gosto, higiene moral ou saúde histórica, tratamos de escamotear da vida que levamos. Uma importante filiação de escritores dedicou sua tarefa criativa a desenterrar esses demônios, a defrontar-nos com eles, e a nos fazer descobrir que eles se parecem conosco. (O marquês de Sade foi um desses terríveis desenterradores).
É preciso celebrar os romances de Céline como o que eles são: grandes criações que enriqueceram a literatura de nosso tempo e, muito especialmente, a língua francesa, dando legitimidade estética a uma fala popular, saborosa, vulgar, pirotécnica, que estava totalmente ausente da cidadania literária. E, claro, como escreveu Bernard-Henri Lévy, aproveitar a ocasião do meio século da morte desse escritor "para começar a entender a obscura e monstruosa relação que pôde existir... entre o gênio e a infâmia".
Ao mesmo tempo que folheava na imprensa o ocorrido na França com o cinquentenário de Céline, li em El País (Madri, 23 de janeiro de 2011) um artigo de Borja Hermoso intitulado La Reabilitación de Roman Polanski. Com efeito, o grande cineasta polonês-francês é, agora, uma espécie de herói da liberdade, depois que uma espetacular campanha midiática, na qual grandes artistas, atores, escritores e diretores, advogaram por ele, conseguiu que a justiça suíça se negasse a extraditá-lo para os Estados Unidos. Isso foi celebrado como uma vitória contra a terrível injustiça da qual, pelo visto, ele havia sido vítima por parte dos juízes americanos, que se empenhavam em julgá-lo por esta bagatela: ter atraído com enganos, em Hollywood, para uma casa vazia, uma garota de treze anos à qual primeiro drogou e depois sodomizou. Pobre cineasta! Em que pese seu enorme talento, os abusivos tribunais americanos queriam castigá-lo por essa travessura. Ele, porém, fugiu para Paris. Menos mal que um país como a França, onde se respeitam a cultura e o talento, ofereceu-lhe exílio e proteção, e lhe permitiu continuar produzindo as excelentes obras cinematográficas que hoje ganham prêmios por toda parte. Confesso que essa história me causa as mesmas náuseas que senti quando mergulhei, há meio século, nas páginas putrefactas de Bagatelles pour Un Massacre. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
Na fronteira entre o gênio e o monstro
Intelectuais brasileiros se dividem quanto à forma de encarar os panfletos produzidos pelo escritor no auge do nazismo
RAQUEL COZER - O Estado de S.Paulo
Oescritor Milton Hatoum morava em Paris, no início dos anos 80, quando a obra de Louis-Ferdinand Céline passou por uma espécie de resgate, relançada com pompas após décadas de obscuridade. Na ocasião, imprensa e crítica foram unânimes em apontá-lo como um dos maiores autores em língua francesa. "A obra dele demorou a ser reavaliada após a 2.ª Guerra", comenta. Foi com surpresa que o colunista do Estado acompanhou a atual rejeição ao romancista por parte de seus conterrâneos devido à militância antissemita. Hatoum arrisca uma análise: "A visão das artes mudou muito na França. As pessoas estão menos interessadas em literatura; a discussão ficou simplista."

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ciclo: " Os sefaradim desvendam seus segredos"

A ASA - Associação Cultural Scholem Aleichem do Rio de Janeiro, repete uma brilhante iniciativa que teve em 2007 e vai organizar um novo ciclo sobre a cultura sefaradi.
Confira no programa/convite a seguir.

Informativo ASA
Novo ciclo sobre a cultura sefaradi
Em maio de 2007, a ASA organizou, com grande sucesso o ciclo Os sefaradim desvendam seus segredos. Foram quatro palestras, muito concorridas, que passaram grande número de informações sobre a cultura dos judeus sefaradim.
Animados por aquele sucesso, estamos organizando um outro ciclo: Os sefaradim desvendam novos segredos. Veja o programa, que ocupará quatro segundas-feiras consecutivas:
Dia 14 de março:
Do Castellano ao Ladino – A evolução da língua através das melodias sefaradim – Cecília Fonseca da Silva (especialista em Filologia Hipano-Americana).
Participação do hazan Alberto Levy (do Centro Cultural Israelita Bircat Abraham) e do Grupo de Cultura Sefaradi Angeles i Malachines (criado em 2002 para preservar e difundir a cultura musical dos sefaradim).
Dia 21 de março:
Identidade e cultura – Judeus portugueses no Brasil contemporâneo – Helena Lewin (doutora em Sociologia/USP, professora da UFF, coordenadora do Programa de Estudos Judaicos da UERJ)
Dois herois luso-brasileiros: Os irmãos Sequerra – Nelson Menda (estudioso da cultura sefaradi, participou da organização do Confarad, do Conselho Sefaradi e do Grupo de Cultura Angeles i Malachines).
Dia 28 de março:
Castro Alves e suas grandes paixões – A causa abolicionista e Mari Roberta Amzalak – Apresentação poética de Anna Bentes Bloch (ativista comunitária, vice-presidente do Conselho Deliberativo da FIERJ).
Hebreia, musa sefaradi de Castro Alves – Luiz Benyosef (presidente do Memorial Judaico de Vassouras, membro do Conselho Sefaradi/RJ)
Dia 4 de abril:
Segredos da culinária sefaradi – Aprendendo a preparar deliciosos pratos salgados com Viviane Behar (quitureira, especializada em burekas).
Participação do Grupo de Cultura Sefaradi Angeles i Malachines, interpretando melodias que dão água na boca.
Grand finale à base de degustação de burekas e dos pratos campeões do Primeiro Concurso Mundial de Receitas Judaicas de Berinjela.
As mesas começarão sempre às 19:30 horas e o local é a sala de vídeo (rua São Clemente, 155).
As inscrições devem ser feitas com antecedência na secretaria da ASA (2539-7740 ou 2535-1808, das 10 às 18 horas, ou pelo e-mail asa@asa.org.br), fornecendo-se nome completo, telefone e e-mail.
O ciclo custa R$ 30 (sócios da ASA quites com as trimestralidades) e R$ 40 (não-sócios). A cobrança será feita no dia da primeira mesa.
Para palestras avulsas, serão cobrados R$ 15.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Dona Gracia Nasi (1510-1568), uma Mulher com História

Selo em homenagem a Dona Gracia Nasi, emitido pelos Correios de Israel



Nascida no seio de uma rica família de marranos em Portugal em 1510, Gracia era conhecida por seu nome cristão, Betriz de Luna. O nome de sua irmã era Reina, batizada Brianda. Seu irmão Samuel Nasi (que tinha o nome de Agostinho Miguel), era médico da corte e catedrático de medicina da Universidade de Lisboa, morreu em 1525 e Gracia assume a responsabilidade de criar os filhos de seu irmão, João (José) e Agostinho (Samuel). Assim como os outros marranos os Nasi viviam como cristãos devotos em público e praticavam secretamente o judaísmo.
Com 18 anos de idade, Gracia contraiu nupcias com Francisco Mundes, marrano e próspero baqueiro. Ele e seu irmão Diego, que administrava os negócios em Antuérpia, ajudavam marranos perseguidos pela inquisição a escapar utilizando-se de suas empresas e império financeiro.
Quando a inquisição chegou a Portugal em 1536, Francisco se preparou para unir-se a seu irmão em Antuérpia, porém ficou doente e morreu antes de poder realizar seu plano.
Gracia Nasi Mendes, tinha então 26 anos quando juntamente com sua filha pequena, Reina a jovem, enterrou o seu esposo como cristão e abandonou Lisboa.
Embarcaram além de Gracia e sua filha, sua irmã Reina seus sobrinhos José e Samuel em um dos navios mercantis dos Mendes rumo a Londres, levando a bordo todos os seus pertences.
De Londres a família viajou para os Países Baixos atravessando as rotas ideais para os marranos. Chegaram a salvo em Antuérpia, onde Gracia se uniu com seu cunhado Diego como sócia plena nos negócios, enquanto que sua irmã Reina tornou-se sua esposa. Reina e Diego tiveram uma filha a quem chamaram Gracia a Jovem, pois Gracia e Francisco haviam dado a sua filha o nome Reina a Jovem, em honra a tia.
Durante seis anos, Gracia participou da sociedade aristocrática e do mundo de negócios de Antuérpia e com seu cunhado continuaram ajudando marranos a fugir de Portugal. Diego confiva tanto em sua cunhada Gracia que em seu testamento a nomeou única administradora de seus bens e tutora de sua filha.
Quando Diego morreu em 1542, o controle de toda a fortuna dos Mendes passou as mãos de Gracia, assim como a responsabilidade pelo bem-estar de sua família. Para tal contava com a ajuda de seu sobrinho José, então com 22 anos, um hábil homem de negócios e excelente diplomáta.
Em 1544, quando Reina, a formosa e abastada filha de Gracia tinha 14 anos, foi pedida em casamento pelo ancião Don Francisco de Aragão, nobre católico e membro da realeza. Gracia estava decidida que sua filha se casaria com um judeu. Tão pressionada estava pela família imperial que planejou transferir suas posses e abandonar a cidade. Fingindo estar recuperando-se de uma doença, Gracia, sua irmã e suas duas filhas viajaram ao balneário de Aquisgran, de lá seguiram a Lyon e finalmente a Veneza.
José permaneceu em Antuérpia para supervisionar os bens da família, que nessa época estavam em nome das jovens Gracia e Reina, sendo Gracia Nasi sua administradora e tutora até que alacançassem a maior idade.
Logo escaparam e suas propriedades e bens foram embargadas. Passados dois anos de negociação e consideráveis prestamos ao imperador, José conseguiu recuperar a fortuna da família e transferir os negócios a outros lugres, principalmente Lyon. Então abandonou Antuérpia e se reuniu com o resto da família em Veneza.
Em Veneza, Gracia foi denunciada como judaizante por sua irmã Reina, quem esperava obter o controle da riqueza da família. Gracia foi sumariamente detida e enviada a prisão, e suas propriedades foram embargadas. Reina também foi denunciada por um agente francês da empresa dos Mendes a quem ela havia subornado, e as jovens Reina e Gracia, foram enviadas a um converto. Uma vez mais, José empregou seus notáveis habilidades diplomáticas para conseguir que o sultão turco exija a libertação de Gracia.
Reconciliada com sua irmã e com suas filhas novamente sob sua custódia, a família se mudou para Ferrara. Nesta cidade em 1550, Gracia se despojou de sua identidade cristã e confessou abertamente seu judaísmo. A partir desse momento foi conhecida como Dona Gracia Nasi, em vez de Beatriz de Luna, e intensificou sua ajuda aos emigrantes marranos.
Financiou a publicação da primeira tradução da Bíblia hebraica para o espanhol, assim como outras obras em hebraico, espanhol e português, e participou intensamente dos assuntos da comunidade judaica.
No entanto, o clima de intolerância cristã na Europa se itensificava; além disso, os judeus poderosos eram muito melhor recebidos pelo sutão turco Suleiman, a quem Gracia Nasi lhe era muito grata. Em 1553 transladou-se com sua família e fortuna para Constantinopla, capital do Império Otomano.. As comunidades judaica e marrana da cidade lhe fizeram uma majestosa recepção, pois para esses havia se tornado uma lenda.
Estabeleceu-se em uma imponente mansão nos subúrbios, onde cebrava luxuosas festas, desenvolvia uma ampla atividade beneficente e oferecia comidas grátis a 80 pobres diariamente. O comércio de lá, grãos, especiarias e textil no Império turco prosperou tal como havia acontecido na Europa cristã e assim conseguiu continuar suas boas obras como patrona de sábios, academias e sinagogas em Cosntantinopla, Salônica e outros lugares.
Uma das primeiras promessas que cumpriu em Turquia foi a que tinha feito a seu falecido marido: enterrá-lo na Terra de israel. Como a Palestina se encontrava sob o domínio otomano, conseguiu que os restos mortais de seu esposo fossem transportados secretamente de Lisboa e enterrados de novo ao pé do Monte das Oliveiras.
Em 1554, a inquisição alcançou o porto italiano de Ancona, um centro de comércio internacional. Dezenas de marranos, muitos deles mercadores e alguns agentes ou amigos pessoais da família Nais, foram detidos e torturados. Com a intervenção do sultão, Dona Gracia conseguiu que alguns deles fossem libertados por serem súditos turcos, mas a maioria permaneceu encarcerada até confessarem seu erro. Vinte e quatro prisioneiros que se recusaram a renegar sua fé morreram na fogueira.
Como represália, Dona Gracia intercedeu por um boicote geral do porto de Ancona por parte da comunidade financeira judaica do Império Otomano, sob pena de excomunhão.

Mesmo que muitos rabinos e líderes de comunidade apoiaram sua proposta, esta foi rechaçada devido a oposição de Josué Soncino, rabino da Grande Sinagoga de Constantinopla.
Dona Gracia Nasi dirigiu então suas energias a Terra Santa. Havendo passado sua vida transladando de um refúgio inseguro a outro, resolveu iniciar a reconstrução do verdadeiro lugar do povo judeu.
Em 1560, com a ajuda de seu sobrinho José, propos as autoridades de Constantinopla que lhe fosse vendida a conseção de Tiberíades e sete aldéias adjacentes em troca da receita de impostos além de uma cota anual de mil ducanos.
Don José Nasi foi nomeado governador de Tiberíades; seu auxiliar José ibn Adret foi enviado a supervisar a reconstrução da cidade e seus muros. Dona Gracia estabeleceu uma academia que atraiu eruditos e construiu um palacio para si mesma cerca das fontes térmicas de Tiberíades.
José importou ovelhas e amoureiras a fim de produzir lã e criar XXXXX(gusanos) de sêda e assim estabelecer a base para uma rentável indústria textil na cidade.
Intensamente envolvida em seus numerosos intereses e ocupações, Dona Gracia postergou sua mudança de Cosntantinopla a Tiberíades.
Quando faleceu em 1569 com 59 anos de idade, sua morte causou uma onda de pesar nas comunidades judaicas da Europa e do Império Otomano.
Sua memória está perpetuada em publicações eruditas e foi louvada nas sinagogas, sendo comparada com as grandes heroínas bíblicas. Dona Gracia Nasi "a coroa da glória das mulheres virtuosas" e "o coração de seu povo", é lembrada como a mulher judia mais
destacada de sua geração.

Extraído: “Entre Mujeres –Ajdut”